Sempre que pessoas procuram o médico com o objetivo de
tratar doenças metabólicas (obesidade e diabetes) ou cardiovasculares recebem a
recomendação não apenas para modificar seus hábitos alimentares mas também para
aumentar a atividade física. Nesta situação, uma pergunta frequente é qual o
melhor tipo de atividade física para este propósito.
Antes de discutir especificamente esta questão, é
importante que sejam definidos alguns conceitos e feitos alguns alertas.
Vamos começar pelos alertas. Muitas pessoas passam
anos, ou até a vida inteira sem desenvolver qualquer atividade física de forma
regular. Tais pessoas são consideradas sedentárias. Ao procurar um médico, a
pessoa sedentária deverá ser submetida a exames cardíacos, vasculares e
metabólicos antes de receber uma recomendação para prática de exercícios. Isto é
muito importante pois se a pessoa nunca fez atividade física na vida (ou fez
muito pouco) existe o risco de ser portadora de algum problema que possa se
manifestar quando ela iniciar a atividade física. Existem problemas do coração,
dos vasos sanguíneos ou outros que podem ficar silenciosos quando a pessoa
pratica pouco ou nenhum exercício, porém podem passar a se manifestar de forma
intensa e com grande risco quando a pessoa faz exercício. Assim, o alerta aqui
é para que as pessoas sedentárias nunca iniciem atividade física sem uma
avaliação médica prévia.
Quanto aos conceitos, uma pergunta comum quando se
inicia a atividade física é qual tipo de atividade física deve ser realizada.
De acordo com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, existem quatro
tipos de atividade física: aeróbia, fortalecimento da musculatura, fortalecimento
dos ossos e alongamento. Para simplificar nossa conversa, vamos nos concentrar
nas atividades aeróbias e de fortalecimento da musculatura.
Na atividade física aeróbia a pessoa exercita vários
grupos musculares (pernas, braços, abdome) de forma contínua e não muito
intensa, por períodos relativamente longos de tempo. Espera-se que durante a
execução da atividade física aeróbia ocorra um moderado aumento das frequências
respiratórias e cardíacas e que com o passar do tempo de treinamento, o
condicionamento físico da pessoa vá melhorando gradativamente. Exemplos de
atividades aeróbias são: caminhada em ritmo acelerado por tempo moderadamente
longo; corrida leve ou moderada por tempo relativamente longo; ciclismo em
ritmo leve ou moderado por tempo relativamente longo; natação em ritmo leve.
Na atividade física para fortalecimento muscular, a
pessoa exercita em momentos distintos determinados grupos musculares colocando
uma certa carga de resistência que exige a aplicação de força para que o exercício possa ser
executado. Em geral, em cada ciclo de exercício repetem-se os movimentos
algumas vezes, e em seguida o grupo muscular exercitado é alterado. Espera-se
que ao longo do tempo, a força e a massa muscular de todos os grupos de
músculos exercitados vá aumentando. A musculação é o exemplo típico de atividade
física para fortalecimento da musculatura.
Muito bem, com estes alertas e conceitos em mente,
vamos partir agora para a resposta da nossa pergunta principal, ou seja; qual tipo
de exercício deve ser realizado. A escolha do tipo de exercício depende muito
do objetivo a ser alcançado. Assim, nesta postagem escolhi a seguinte situação:
uma pessoa (pode ser homem ou mulher) com mais de 60 anos de idade, obesa e
sedentária que procura o médico para perder peso.
Quando pacientes idosos são submetidos a abordagens que levam à perda de peso, há o risco de que em
paralelo à perda de peso ocorra também perda de massa muscular aumentando a
fragilidade e o risco de lesões. Isto pode ser um problema sério para pessoas
nesta faixa etária.
Assim, um grupo de pesquisadores americanos realizou
uma pesquisa na qual acompanharam 141 pessoas durante 6 meses. Os pacientes foram divididos em três grupos:
no primeiro grupo receberam recomendação dietética e foram orientados à prática
de atividade física aeróbia; no segundo grupo receberam a mesma orientação
dietética porém realizaram atividade para fortalecimento muscular; no terceiro
grupo, mais uma vez a orientação nutricional foi a mesma, porém a atividade
física foi mista, um pouco aeróbia e um pouco para fortalecimento muscular.
Importante lembrar que os educadores físicos que participaram do estudo tomaram
todos os cuidados para que, tempo e intensidade da atividade física fosse
similar entre os três grupos.
Durante todo o período do estudo os pacientes foram
avaliados para vários parâmetros e os resultados mais importante foram: i, a
perda de peso foi igual nos 3 grupos; ii, entretanto, no grupo com atividade física
aeróbia houve perda de gordura porém houve também
maior perda de massa magra (ou seja músculo); iii,
além disso, o grupo com atividade física aeróbia também apresentou um pouco de
perda de massa óssea; a capacitação física, foi melhor nos grupos que fizeram
atividade aeróbia e mista; iv, o ganho de forca muscular foi melhor nos grupos
que fizeram atividade para fortalecimento muscular e atividade mista. Assim, os
pesquisadores concluíram que, considerando todos os benefícios e todos os
eventuais problemas, pacientes obesos idosos, quando autorizados pelos médicos,
devem dar preferencia a atividade física mista, ou seja, metade do tempo em aeróbia
e metade do tempo em musculação.
Principal referência para esta postagem: Villareal.
New England Journal of Medicine (2017)376:1943.